Escolher morrer

A televisão estava na tvi. O marido ainda sugeriu mudar de canal, assim que a reportagem começou. Disse para não mudar. Escolhi vê. Declarações de princípio são mesmo já: concordo com o suícidio assistido ou lá como queiram chamar-lhe. Não compreendo porque têm as pessoas que sofrer daquela forma, daquela forma. Vi um britânico que escolheu morrer, na Suiça, porque podia. Porque queria. Emocionei-me por ter a mulher junto dele. Todo o tempo. Por ter morrido abraçado a ela. A dizer-lhe que a amava. Irrita-me a hipocrisia dos que tudo podem e em tudo mandam. Porque esses têm como pagar a dignidade da morte dos que amam. As unidades de cuidados paleativos são assustadoras. Assustadoras porque não se está lá para curar nada. Está-se lá para atenuar a dor. Ainda assim é melhor estar lá, ter apoio, ter alguém e algo que atenue a dor. Tocou-me ouvir uma senhora de idade, internanda numa unidade de cuidados paleativos, que dizia que queria ir para perto de casa, que queria morrer. E ia morrer. Pode até ter já morrido. Mexeu com as minhas entranhas ouvir uma mãe falar da filha, que partiu deste mundo cedo, muito cedo. Mas que afirmou que nunca seria capaz de pedir que reanimassem a filha, porque o sofrimento pelo qual passou foi absurdo. A dor da mãe. Para ser capaz de ter desejado que ela partisse. Para admitir que desejou...