28/10/14

um dia...

Vou querer lembrar-me de dias como os nossos.
De como és doce com uma ponta de sal. Lembras-me o meu sabor de gelado favorito. És uma menina caramelo salgado. És assim. Intensa, doce, rica e trazes contigo a possibilidade da surpresa do grão de sal a cada dentada.
É fácil gostar de ti. Mesmo para quem não tem por ti um amor cego, como o meu, de mãe. É mesmo muito fácil.
Adoro ver-te a gerir conflitos. És boa nisso. E parece-me que será uma característica que, sendo inata em ti, te trará muitos sorrisos no futuro. Não podes ver duas crianças chateadas que tentas apaziguar. Não entras no jogo do agora não gosto de ti e na manipulação fácil do agora sou a melhor amiga da outra. És conciliadora. Gostas de ver os que te rodeiam felizes.
És uma companheirona. A melhor. E comigo ficará para sempre, uma manhã louca (minha) de trabalho em que foste comigo e só dei por ti, quando estavas lá para me ajudar. E ajudaste mesmo. E estávamos fora de casa. Num ambiente que te era totalmente estranho. Levaste canetas de feltro e folhas. E estiveste entretida a pintar o teu mundo perfeito. E a saltar na cama elástica ou no insuflável. Aproveitaste a festa mesmo antes dela começar. E estavas genuinamente feliz por estar ali.
Alguns pensarão que te pinto, com olhar de mãe. Sim. Sem dúvida. Mas tenho para mim que alguém que conviva contigo de perto, não terá uma visão diferente e pintará algo bem similar.
Tens sempre a palavra certa a dizer quando percebes que alguém não está bem. Na passada semana o meu carro pregou-nos uma partida e decidiu parar a uns 200 metros de casa. Uns 15 minutos num local com bastante trânsito. Com buzinas de quem não percebia de imediato o motivo. Lá acabou por dar sinal de vida e conseguimos chegar até casa. Eu com um humor de cão, a pensar como ia trabalhar no dia seguinte e a fazer contas à minha vida. Deste-me a mão e pediste-me um abraço ao entrar em casa. Perguntaste-me se estava triste. Respondi-te que não. Que estava chateada. Apertaste o nosso abraço e disseste-me: não fiques assim mamã, há dias melhores e dias piores, mas o importante é que estamos juntinhas. E fizeste-me esquecer o estafermo do carro no mesmo segundo- 
És uma criança fácil. E estás a crescer. Ia escrever que cresces demasiado rápido mas parece-me que todos os filhos crescem demasiado rápido. Para além das mangas das camisola a três quartos e das saias que agora são mini e mostram como estás alta, cresceste muito para além do que os olhos podem ver. Estás uma menina crescida. Que até já percebe rápido quando faz algo menos certo e me lê só com o olhar.
Há uns dias alguém que conheço quase desde sempre, falava-me de ti. E contava-me como és, quando não estás connosco, quando estás na escola, rodeada de outras crianças. Eu sei que és tudo aquilo. Mas ter alguém, com o olhar não turvo de mãe a dizê-lo, deixou-me com o peito cheio de orgulho. Por gostar do ser humano fantástico que existe por trás desses caracóis dourados. Defendo a máxima de que não devemos criar filhos duros para lidar com o mundo. Mas antes criar filhos que façam deste mundo, um local melhor. Se deveria educar-te para seres dura, como tantas vezes ouço? Não sei. Se te trará amargos futuros? Menos sei ainda. Mas sei, sem ponta de dúvida, que se todas as pessoas do mundo fossem Marias, como tu, seria tão, tão melhor. O que de melhor posso deixar por cá é amor. E tu és isso mesmo. Amor. Luz. Doçura.
Gosto de ti. Mais do que ontem. Menos do que amanhã.
 
 

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