09/08/13

agora que o mau tempo passou

Sempre fui uma mãe que beija e abraça e diz que te ama. Sempre. Melosa. Às vezes, ficas cansada e dizes-me com ar enfastiado que já chega. Não chega. Nunca chega.
Se nunca chegou, depois de há uns dias te ter sentido a fugir de mim para a terra dos anjos e das estrelinhas, a coisa piorou.
Mais do que nunca, gosto que me peças para te abraçar enquanto adormeces. Mais do que nunca me emociono a ver-te sorrir. Mais do que nunca sinto o previlégio que é ter-te na minha vida. E dou-te ainda mais beijos e mais abraços e digo vezes sem conta que gosto de ti.
Tivemos este ano as férias mais atribuladas de sempre e vivi (eu e o papá) muito recentemente o dia mais duro da minha vida.
Tu foste à luta. Por trás do teu sorriso malandro e dos teus caracóis dourados, és forte princesa. Uma guerreira. Uma apendicite que levou 9 longos dias a ser descoberta. Peritonite. Infindáveis visitas a este e aquele hospital. Cirurgia já no limite e com a tua cavidade abdominal com a infecção muito espalhada. E no momento em que soube que algo de muito grave se passava e senti uma dor que de tão forte me parecia física e não na alma, em que chorei descontroladamente à tua frente, assim que ouvi as palavras que a senhora da bata branca me disse... tu agarraste-me o rosto com as duas mãos e pediste-me que tivesse calma, que tudo ia ficar bem.
Claro que na tua inocência não percebeste a verdadeira dimensão daquilo porque passaste. E ainda bem. Mas ter-te ali, naquele momento, em que as tuas dores deviam ser imensas e já duravam há 9 longos dias, magrinha e fraca a dizer-me a mim, para ter calma, foi coisa para me deixar ainda mais aflita.
Tive medo. Muito medo. Aliás. Sempre tive medo. Mas não medo assim. Porque este não era o medo de pensar se algum dia lhe acontece alguma coisa... Este era o medo de pensar que aconteceu e que o cenário é complicado e não sabemos como vai correr no fim...
Entraste para o bloco operatório pouco depois e adormeceste de mão dada comigo. Eu ali. A teu lado. Para evitar que o teu medo te levasse a adormecer demasiado agitada, deixaram que estivesse contigo no bloco, até adormeceres. E foi altura de fazer das tripas coração e sorrir quando por dentro chorava, e tranquilizar-te, tal como há minutos tinhas feito por mim. E retribuir as tuas palavras: vai ficar tudo bem...
E depois foram minutos que pareceram horas, horas que pareceram dias. Até sabermos o que afinal se passava dentro da tua barriguinha e que ninguém conseguia descobrir e até o telefone tocar antes da porta do bloco se abrir e alguém nos dizer, correu tudo bem...
Afinal tinhas razão princesa. Eu não tive calma. Mas tudo ficou bem.

6 comentários:

Sara disse...

Já me roubaste uma lágrima! Ter filhos faz-nos exatamente isso...
É fantástica a tua Maria!!!
Beijos grandes!

Ana disse...

Beijos muito muito grandes para vocês, uma família de guerreiros!

Carolina Cardoso Silveira disse...

eles são os nossos heróis e dão-nos lições de vida.
Ainda bem que tudo correu bem, e o susto ficou lá trás.
Um beijinho grande

Rute disse...

Ao ler o seu relato o meu coração ficou apertado. Não consigo imaginar a vossa dor e da menina. As crianças são muito fortes, mais fortes do que pensamos.
Desejo rápidas melhoras e que tudo corra bem. Beijinhos

Anónimo disse...

Ainda bem que já está tudo bem. Fez-me chorar pois só pensei nas minhas filhas. Dói tanto ser mãe, mas é um amor maior que o mundo. Espero que ela recupere rápido.

Um abraço apertadinho

Sandra / Funchal

Dinastia FilipiNHa disse...

Ai amiga... Já sabia de tudo isto, mas ler assim, com tanto sentimento à mistura... Nem sei que dizer...

Um beijinho...