19/08/13

a propósito de não falar com estranhos

A minha tia escolheu uns pares de meias que estavam pousados num balcão de uma loja com a indicação: 4 pares/5€ (preço de saldo). Pagou com uma nota de 10€ e esperou o troco. O troco não veio. Perguntou e responderam que aquelas afinal não eram as meias da promoção que eram outras. Ainda que não esteja correcto, a minha tia não estava para se chatear e pediu então para anularem a venda, que por 10€ não queria as meias.
Ah.... Mas não fazemos devoluções, por isso a nota que acabou de entrar na caixa registadora já não sai...
 
Eu por perto, a minha tia pede o livro de reclamações que não há forma de aparecer e eu lá fui dizer à menina que nos atendia que se não houvesse livro de reclamações iria chamar a polícia, porque aquilo que estavam a fazer era um roubo...
 
A minha querida filha, com cara de minha mãezinha, puxa-me pelo braço e diz-me: "Mãe, vamos embora. Estou farta de te dizer que não deves falar com pessoas que não conheces!"

Maria a materialista

Não sei foi ontem que viu pela primeira vez um Porsche. Sei que foi a primeira vez que, ao passar por ele, se deitou quase literalmente em cima do capot enquanto olhava para o símbolo do dito cujo e entre "uaus" e suspiros disse que aquele carro era lindo.
Não tem mau gosto, portanto.
A minha madrinha estava connosco e disse-lhe que aquele carro era giro e que o meu padrinho também gostava muito. E que era um carro muito caro. E a brincar disse-lhe que devia arranjar um namorado rico, que tivesse um carro daqueles.
Ela calou-se. Coisa rara, portanto.
Entrou no carro dos meus padrinhos e voltou a puxar o assunto...
 - "Tia explica-me melhor aquilo dos miúdos ricos..."
 - "É simples Maria. Tens muitos amigos e perguntas-lhes os nomes e de onde é que eles são. Dizes à Tia e a Tia descobre se são ricos..."
 Ela muito interessada no assunto... "Mas não pergunto se são ricos?"
 - "Não... a Tia depois descobre e o mais rico escolhes para teu namorado!"
Eu lá aproveitei a pausa no entusiasmo e disse-lhe que o que interessava era o que ia no nosso coração e não o carro que tínhamos e se tínhamos ou não muito dinheiro. Interrompeu-me em 2 segundos.
  -"Lamento mãe, mas sobre isto a tia tem razão. Quero um namorado rico. Sempre quis ter uma Quinta com animais e muitos póneis....e se tiver um namorado rico também não tenho que trabalhar e chegar a casa cansada... que trabalhar às vezes deve ser charo... Ele vai trabalhar e eu fico em casa. E se quiser ir passear, vou de avião e vou sempre que me apetecer! E depois se ele tiver um Porsche... Eu gosto de Porsches mãe... Já sei o que tenho que perguntar para a TIa Minocas descobrir se os miúdos são ricos..."
 
Bonito.

a propósito da campanha eleitoral

Numa rua em Matosinhos, ela vê um cartaz de um candidato à Câmara.
 - "Mamã, quem é aquele senhor?"
 - "É um candidato à Câmara de Matosinhos"
 - "O que é um candidato?" - esta foi fácil pensei eu explicando-lhe que era um concorrente, como numa corrida em que correm todos e só um chega 1º.
 - "E o que faz um Presidente da Câmara, mamã?" - ora bolas... às vezes eu mesma me faço estas perguntas, mas adiante. Expliquei de forma que achei que ela perceberia.... "É o senhor que manda nos horários dos polícias, que decide a hora em que os lixeiros recolhem o lixo, que define as tarefas e os horários dos jardineiros, e dos senhores que trabalham nas águas..."
Ela decidida interrompe-me.
 - "Quando chegarmos a casa vou tratar de fazer um horário com as tarefas. A hora de tomar banho, a hora de fazer o jantar, a hora de arrumar o quarto...!".
Sim, e....
"É que assim posso ser eu a Presidente da Câmara!"

14/08/13

de gravidez adolescente já tinha ouvido falar

mas aos 4, parece precoce...
 
Ao contar à nossa amiga Cláudia a aventura que teve a andar no rinoni (aka ambulância, qaundo foi transferida do Hospital de S. João onde foi operada, para o Hospital de Santo António, onde ficou internada):
 
 - Sabes Claudia, eu andei de rinoni porque eu estive...estive grávida no hospital (leia-se internada no hospital)
 
Oi? Grávida? Risos.

Maria a diplomata

A lambuzar-se com uma tosta mista, depois de se ter recusado a provar o macarrão que havia para jantar (nova receita e com aspecto estranho para ela por ter uma espécia de crumble salgado por cima).
 - Mamã querida do meu coração, eu gosto muito de ti!
 - Eu também gosto muito de ti, mas gostava que tivesse experimentado a massa que a mamã fez para jantar...
A resposta veio a meio de uma trinca e com o olhar mais meloso e doce do mundo...
 - Vá mamã, não fiques triste. Da próxima vez que fizeres eu prometo que experimento um bocadinho...

09/08/13

agora que o mau tempo passou

Sempre fui uma mãe que beija e abraça e diz que te ama. Sempre. Melosa. Às vezes, ficas cansada e dizes-me com ar enfastiado que já chega. Não chega. Nunca chega.
Se nunca chegou, depois de há uns dias te ter sentido a fugir de mim para a terra dos anjos e das estrelinhas, a coisa piorou.
Mais do que nunca, gosto que me peças para te abraçar enquanto adormeces. Mais do que nunca me emociono a ver-te sorrir. Mais do que nunca sinto o previlégio que é ter-te na minha vida. E dou-te ainda mais beijos e mais abraços e digo vezes sem conta que gosto de ti.
Tivemos este ano as férias mais atribuladas de sempre e vivi (eu e o papá) muito recentemente o dia mais duro da minha vida.
Tu foste à luta. Por trás do teu sorriso malandro e dos teus caracóis dourados, és forte princesa. Uma guerreira. Uma apendicite que levou 9 longos dias a ser descoberta. Peritonite. Infindáveis visitas a este e aquele hospital. Cirurgia já no limite e com a tua cavidade abdominal com a infecção muito espalhada. E no momento em que soube que algo de muito grave se passava e senti uma dor que de tão forte me parecia física e não na alma, em que chorei descontroladamente à tua frente, assim que ouvi as palavras que a senhora da bata branca me disse... tu agarraste-me o rosto com as duas mãos e pediste-me que tivesse calma, que tudo ia ficar bem.
Claro que na tua inocência não percebeste a verdadeira dimensão daquilo porque passaste. E ainda bem. Mas ter-te ali, naquele momento, em que as tuas dores deviam ser imensas e já duravam há 9 longos dias, magrinha e fraca a dizer-me a mim, para ter calma, foi coisa para me deixar ainda mais aflita.
Tive medo. Muito medo. Aliás. Sempre tive medo. Mas não medo assim. Porque este não era o medo de pensar se algum dia lhe acontece alguma coisa... Este era o medo de pensar que aconteceu e que o cenário é complicado e não sabemos como vai correr no fim...
Entraste para o bloco operatório pouco depois e adormeceste de mão dada comigo. Eu ali. A teu lado. Para evitar que o teu medo te levasse a adormecer demasiado agitada, deixaram que estivesse contigo no bloco, até adormeceres. E foi altura de fazer das tripas coração e sorrir quando por dentro chorava, e tranquilizar-te, tal como há minutos tinhas feito por mim. E retribuir as tuas palavras: vai ficar tudo bem...
E depois foram minutos que pareceram horas, horas que pareceram dias. Até sabermos o que afinal se passava dentro da tua barriguinha e que ninguém conseguia descobrir e até o telefone tocar antes da porta do bloco se abrir e alguém nos dizer, correu tudo bem...
Afinal tinhas razão princesa. Eu não tive calma. Mas tudo ficou bem.