26/08/14

um dia...

 
Há momentos da minha infância de que me lembro muito bem. De andar de autocarro com a minha mãe para ir ter com o meu pai ao fim da tarde e irmos juntos para casa. Do velhinho Fiat 127 vermelho. Do mimo e do colo da minha avó materna. De fazer os "deveres" numa mesa de madeira, no quarto da minha avó antes da minha mãe me ir buscar. Da brincadeira diária em que o meu irmão fazia de taxista, sentado ao volante do carro estacionado, enquanto esperávamos pelo meu pai ao fim da tarde. De jantarmos na cozinha. Dos sábados à noite em que a tia Esmeralda e o Matos apareciam para joagar às cartas lá em casa e nos levavam uns chocolates alegro de presente. Do meu despistado e resmungão avô paterno de cabelos tão branquinhos que me oferecia presentes às escondidas. Dos natais com a casa cheia e do cheiro a lareira. Dos meus aniversários em noite de S. João sempre com casa cheia e com cheiro a sardinhas assadas e barulho de foguetes. Dos teatros que preparávamos os 3 (eu, o meu irmão e o meu primo Rui) nas férias de Natal, para ocuparmos a noite de Natal. Da voz dissimulada e assustadora que a minha avó fazia para assustar o meu irmão nos momentos em que ele se portava pior. Da mármore das paredes da casa de banho de casa da minha avó materna, em que imaginava desenhos mil. Das tardes de domingo com cheiro a chá quentinho e a torras em pão de regueifa feitas no forno. Dos fins-de-semana de inverno em que a minha mãe me levava o pequeno-almoço à cama. Dos carnavais com fantasias feitas à medida e com direito a ver a minha avó mascarada de improviso. Da capa metálica das garrafas de espumante que a minha tia avó sempre colocava no nariz (tipo palhaço) quando havia festa. De ir a Fão com a minha avó de camioneta e achar que tinha feito uma viagem imensa. Das 6ªs feiras em que apanhavamos o comboio para rumar a Esmoriz para o fim-de-semana ou quando íamos ter com o Bessa e íamos mais que muitos num carro que hoje não poderia levar mais de 5 pessoas. Da enorme subida perto do restaurante braseiro e das filas intermináveis. Das 3ªs feiras à tarde em que o meu pai não trabalhava e nos levava a jogar minigolfe, a comer uma torrada quentinha ou um gelado, ou a atravessar o rio Douro num pequeno barco. Da mercearia antiga da D. Antonina. Das bolachas catraias que comprávamos na Rua do Rosário.
E um dia...
Um dia vou perguntar-te que recordações guardas dos teus dias de criança.
Vou querer saber que cheiros te levam numa viagem ao passado. Que recordações guardas das nossas tardes de domingo.
Como te lembras de nós, num lugar que agora é hoje mas que um dia será passado.
Vou querer que me contes se te lembras das vezes em que não me orgulho do meu papel de mãe, porque me deixo ir na onda e te falo mais alto não porque tenhas feito algo extraordinariamente errado, mas apenas porque ando cansada ou porque o meu dia correu mal. Vou querer que me contes se te lembras das juras de amor que trocamos todos os dias e das graçolas antes de dormir. D
Um dia, se me esquecer de te perguntar, prometes que me lês e me respondes?

21/08/14

empresas sem WC?

Tenho a sorte de trabalhar pertinho de casa e mais perto ainda de casa dos meus pais e da minha mãe me dar almocinho todos os dias.
Com as férias, a hora de almoço, é também hora de dar umas beijocas à Maria.
Ontem, logo depois de eu lhe dizer até logo e de lhe dar uma beioca porque tinha que me despachar porque ainda tinha que ir fazer um xi-xi antes de sair, ela pergunta-me:
"Óh mãe.... Lá no teu emprego não há casa de banho?!"

18/08/14

onde é que ela vai buscar estas respostas?

Ontem depois de ver o tio Joca pegar no primo Tomás e atirá-lo ao ar na piscina, agarrou-se a ele e deu-lhe uma mordidela na cara. Das grandes.
Percebi logo que o fez porque não percebeu bem se aquilo era brincadeira e se estavam a fazer mal ao amigo Tomás, então ela tinha que o defender.
Ainda assim perguntei.
 - Maria, porque mordeste no tio Joca?
 - Ele pareceu-me gostoso!!!!
Claro que lhe disse que não se fazia. Depois de me recompor de costas viradas para ela e de me rir até não poder mais.

das férias que já lá vão e dos dias que estão para vir

Rimos. Passeamos. Dormimos agarradinhas. Apanhamos sol. Provaste pela 1ª vez um Magnun Double Caramel e no mesmo dia comeste dois. Demos mergulhos. Trocamos segredos. Ficamos com a face rosada do sol. Ficaste morena a valer. Fizeste amigos na piscina com quem combinavas encontros no dia seguinte. Saltamos. Dançamos. Conheceste a livraria mais bonita do mundo e apaixonaste-te pela escadaria e pelo cheiro a livros no seu interior. Correste atrás das pombas. Andamos de autocarro. Andamos de metro. Adormeceste no autocarro. Reclamaste de tantas vezes que fomos ao Porto passear, fruto do tempo atípico e da ausência de calor.
Adormecemos tarde. Fizemos caretas uma à outra, com o único objectivo de fazer a outra rir. Rimos a valer. Esquecemos os horários. Muitas vezes esquecemos as regras. Andamos de chinelos. Ficamos com o cabelo mais claro por obra do sol que adoramos. Vimos desenhos animados. Compramos trapilho e fiz um tapete para o teu quarto. Pintamos um móvel de azul turquesa. Pelo meio fui fazendo bolos e mais bolos. Festas e mais festas. E cada bolo te fazia sonhar com a tua próxima festa de aniversário. Escolheste o tema da tua festa. Todos os dias perguntas quanto tempo demora para chegar o grande dia.
Pela 1ª vez verbalizaste saudades da escola, das tuas amigas e das vossas brincadeiras. Demos beijos salgados e doces. Disseste-me vezes sem conta: "és a melhor mãe do mundo!". Passamos perto do hospital que foi a nossa casa 10 dias, no Verão passado e recordamos aquele aperto no coração que deixou a nossa vida em suspenso e que teve (felizmente) um final feliz.
Foram duas semanas que passaram a correr. O tempo desapareceu e quando percebemos era domingo e perguntaste-me se tinha mesmo que ir trabalhar no dia seguinte. Disse-te que sim. Querendo dizer-te que não.
E agora que as férias se foram? Temos aproveitado os fins-de-semana o melhor que podemos. Aliando tantas vezes o (meu) trabalho com a brincadeira, como fizemos quando aliamos uma festa no Minigolfe com uma tarde a jogar e a brincar. Acertaste num buraco à primeira. Deste pulos e gritos de alegria. Falhaste muitas vezes. E fizeste batota outras tantas. Eu e o padrinho fingimos somar os pontos e dissemos que ganhaste.
Fizeste um birra monumental ao sair de casa do tio Paulo, no dia do aniversário dele. O motivo? Estavas (muito) cansada depois de uma tarde com a festa da tua grande amiga Rita e e querias ficar em casa dos tios. Choraste muito. Esperneaste ao colo do papá. Engasgaste-te de tanto chorar. Pediste desculpa ao pai e disseste-lhe entre soluços e com uma lucidez que me assusta, que também te devia pedir desculpa a ti, porque não tinhas gostado que pegasse em ti ao colo e te tivesse trazido embora daquela forma. E que devia lembrar-se sempre que a família é o mais importante e que devemos sempre sentir com o coração. E que não devemos magoar as pessoas que moram no nosso coração.
Comemos gelados. Saímos para jantar quando estávamos a acabar de entrar em casa.
Demos um longo passeio à noite, naquela cidade que é minha. Dançaste. Cantaste. Atiraste uma moeda (na verdade várias moedas) ao lago (nos Leões) e pediste um desejo com muita força. Pediste uma Quinta com muitos animais. Ficaste triste segundos depois a dizer que sabias que não se ia realizar. Passou-te rápido e meteste mãos à obra e com a ajuda e cumplicidade da avó, tens juntado caixas e cartão, latas de tinta, folhas e tesoura e estás a construir a tua Quinta. Jogamos ao macaquinho chinês na rua. Perto da meia-noite.
Foste a tantas festas de aniversário. Adormeceste cansada vezes sem conta.
Fomos passear ao Palácio de Cristal e viste um pavão com duas crias que parecia ter algum dispositivo magnético que te puxava para ele. Querias levar o pavão para casa.
Andaste de baloiço a grande velocidade.
Fomos comer uma Francesinha com um grupo improvável de pessoas, que são importantes na nossa vida.
Fomos a Guimarães a uma piscina que adoras, apesar desta nos trazer de volta recordações de dias dolorosos. Adormeceste no carro, de fato de banho, a caminho de casa e acordaste apenas no dia seguinte. Ainda com sono e cheia de fome.
 
Não quero que um dia te lembres de tudo. Mas espero que estas vivências, estas memórias de dias doces, fiquem contigo para sempre e contribuam para que a luz que tu tens, brilhe cada vez mais.